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Agro brasileiro deve perder espaço com acordo entre EUA e China

13/01/2020
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Avaliação é do professor Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, que destaca as cadeias de soja e proteína animal

As exportações do agronegócio brasileiro devem perder espaço no mercado chinês partir do acordo comercial entre Estados Unidos e China, cuja Fase 1 foi assinada nesta quinta-feira (15). A avaliação do professor Marcos Jank, especialista em comércio internacional e coordenador do Insper Agro Global.

“Existe um conjunto imenso de regras que estão sendo criadas, muito detalhadas, como protocolos, prazos e mecanismos de solução de controvérsias. Uma série de coisas que estão sendo feitas no âmbito bilateral que facilitam o comércio de diversos produtos que interessam ao Brasil”, analisou, em entrevista à Globo Rural.

A Fase 1 prevê compras adicionais de produtos agrícolas de pelo menos US$ 12,9 bilhões em 2020 e ao menos US$ 19,5 bilhões em 2021, tomando por base as exportações de 2017, de cerca de US$ 24 bilhões. Com isso, os negócios devem chegar a pelo menos US$ 36,5 bilhões em 2020 e US$ 43,5 bilhões em 2021, em itens como soja, milho, algodão, arroz, carnes, entre outros segmentos.

Marcos Jank avalia que é um salto nas exportações do agronegócio americano para os chineses, que totalizaram cerca de US$ 16 bilhões em 2019. Para ele, não há como cumprir um acordo nessa magnitude sem impacto sobre outros fornecedores, entre eles, o Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial e nos Estados Unidos seu principal concorrente.

“Uma das áreas atingidas é o agronegócio, com 17 anexos que facilitam o comércio em diversos produtos importantes. Não tem como saírem de 16 (bilhões de dólares) para 43,5 (bilhões de dólares) sem que o Brasil perca alguma coisa nesse processo”, analisou.

Segundo ele, no mercado de soja, a tendência é de uma “volta à normalidade”, depois da situação causada pela guerra comercial. Assim, parte do espaço que o Brasil ganhou na China pode ser recuperada pelo americanos. Em compensação, outros países atendidos pelos Estados Unidos podem voltar a ter os brasileiros como fornecedores.

“Foi criada uma artificialidade, que é o Brasil vender soja o ano inteiro e os americanos saírem do mercado, mas a lógica é o Brasil vender em um semestre e os americanos em outro. A notícia não é boa, mas não é tão grave se for feita na base da competição”, explicou.

Jank ponderou, no entanto, que essa “normalização” do mercado de soja só deverá ocorrer quando os agricultores dos Estados Unidos colherem a safra 2020/2021, no final deste ano. No atual ciclo agrícola, eles ainda devem sentir os efeitos da quebra de safra provocada pelo clima e da diminuição dos estoques.

Na opinião do professor, o mercado de carnes mostra um cenário mais incerto para o agronegócio brasileiro. Em meio à guerra comercial e à epidemia de peste suína africana (PSA), lembra, o Brasil ganhou espaço na China. Mas o acordo prevê mecanismos processuais, prazos e critérios que podem mudar o jogo para o lado americano. E, enquanto as duas potências se resolvem, acrescenta, a liberação de plantas frigoríficas brasileiras por parte dos chineses ainda esbarra em um processo que, em sua avaliação, é muito burocrático e pouco transparente.

“Ainda é cedo para dizer, mas é um ‘rebalanço’. Não é natural quanto na soja, mas está sendo feita em cima de regras específicas. Pode acontecer disso facilitar para eles e não para nós. E isso é um pouco assustador. Mas não acho também que a China vai se entregar de cabeça para os Estados Unidos. Por questão de segurança alimentar, ela sempre evitará ter um só fornecedor”, analisou.

Lei do mais forte

Em sentido mais amplo, Jank disse acreditar que o acordo comercial Estados Unidos e China é preocupante do ponto de vista das regras de comércio internacional. Afinal, são as duas maiores potências globais definindo regras entre si em detrimento do sistema multilateral, “praticamente rasgando o que o mundo negociou nos últimos 80 anos”.

“Esse mundo do comércio administrado é muito preocupante porque é a lei do mais forte”, afirmou. (É só para os Estados Unidos ou para todo mundo) O que tem nos anexos são regras bilaterais. Não são coisas de OMC (Organização Mundial do Comércio). Eu tenho a impressão de que há mecanismos para se questionar na OMC. Mas eles foram cuidadosos”, acrescentou.

Diante da situação, ele avaliou que o Brasil precisa fazer uma leitura minuciosa da Fase 1 do acordo entre Estados Unidos e China e avaliar a possibilidade de abrir conversas com autoridades chinesas sobre os rumos da parceria comercial.

“A primeira coisa é entender se esse acordo é compatível com as regras multilaterais, entender se isso cria determinados caminhos que a gente não tem. O segundo passo é ir a Pequim iniciar conversas para entender na visão dos chineses o quanto impacta o nosso processo de exportação. Isso será estendido pra gente ou não. Se a resposta for que não é compatível e não vai ser estendido, tem que discutir no mais alto nível e manifestar nossa preocupação”, disse.

Fonte: Globo Rural

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