Cooperativismo impulsiona segmento que é motor da economia brasileira
O tradicional e mineiríssimo queijo “cabacinha” subiu ao pódio dos famosos neste mês, com a sanção da Lei nº 24.379, que reconhece a iguaria como patrimônio cultural e imaterial de Minas Gerais. Com o novo status, o laticínio esculpido artesanalmente pelas mãos de pequenos produtores locais tem a chance de sair do anonimato e conquistar novos mercados, rebocando com ele uma cadeia que, em Minas, responde por 26,9% da produção de leite do Brasil. “Vemos como uma conquista de todo o cooperativismo e de todo o agronegócio brasileiro, que há anos vem sustentando a balança comercial do nosso país. Vivemos um momento do agro em que todos precisam ter voz ativa para realçar a importância desse setor”, ressalta o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato.
Na data em que se comemora o Dia do Agricultor, 28 de julho, o dirigente reforça mais uma vez os números da agropecuária no cooperativismo mineiro. O ramo cresceu 7,7% em 2022, e hoje reúne quase 190 mil produtores rurais, representando 21,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do Estado.
A cada 100 litros de leite produzidos no Brasil, 19,7% passam por uma cooperativa. Desses, 26,9% são produzidos em Minas Gerais, além dos diversos derivados, como 165,3 milhões de litros de leite UHT, 65,2 milhões de litros de bebidas lácteas, 17,5 mil toneladas de leite condensado e 11,7 mil toneladas de queijo.
No ramo do café, os números de Minas são ainda mais robustos. Aqui se produzem, dentro das cooperativas, 24,6% de todo o café nacional. “A cada 100 xícaras de café produzidas em Minas Gerais, 57 passam por uma cooperativa”, diz Scucato.
Sustentabilidade – Como se não bastasse todo o impulso econômico do cooperativismo para as regiões em que está presente, o setor ainda se destaca pelo potencial de gerar desenvolvimento social e sustentabilidade ambiental.
É na cidade de Lajinha, por exemplo, no leste do Estado, que está implantada a primeira planta de produção do fertilizante biochar na América Latina, numa parceria entre a startup francesa NetZero e a Cooperativa de Café das Matas de Minas (Coocafé).
A unidade produz o bioinsumo a partir da palha do café que é gerada pelos cafeicultores da região. Além de melhorar a produtividade das lavouras em geral, o biochar, pelas características de seu processo de transformação, contribui para reduzir a geração de gases do efeito estufa na atmosfera. Mais uma vez, é o cooperativismo na linha de frente da responsabilidade econômica, social e ambiental, de mãos dadas com o agricultor – no seu dia, e em todos os outros.
Agricultura familiar responde por 70% dos alimentos consumidos em Minas Gerais
Eles vivem do que plantam, cuidam da terra com carinho e tornam nossa vida mais saudável e farta. Estamos falando dos agricultores e pequenos produtores rurais, que trabalham de sol a sol para levar alimento de qualidade para a nossa mesa. Somente aqui, em Minas Gerais, existem 190 mil agricultores e produtores rurais associados a cooperativas, de acordo com o Anuário do Cooperativismo Mineiro 2023. Uma gente de valor, que acredita no poder da cooperação e assumiu o compromisso de produzir, sim, mas de forma sustentável e responsável. Gente como Renata Ávila, uma mulher que representa a força da agricultura familiar na cafeicultura.
“O Dia do Agricultor é especial para nós pequenos produtores rurais, pois reconhece nossa importância para a economia brasileira”, festeja Renata, cuja propriedade foi eleita uma das 10 melhores da região do cerrado mineiro em concurso promovido pela Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, nos ano de 2018 e 2022.
[acervo pessoal: Renata Ávila]
“Nosso principal avanço é estarmos conquistando espaço e reconhecimento dentro da nossa cadeia, que é a cafeicultura”, destacou Renata, cooperada da MonteCCer – Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo.
Apaixonada pelo que faz, a agricultora garante: a agricultura familiar favorece a independência econômica e a emancipação social da mulher.
“Somos uma cooperativa especial, que valoriza cada produtor, com mulheres liderando as propriedades, conquistando seu espaço em um setor ainda predominantemente masculino”, disse.
A afirmação da cooperada tem respaldo em dados: hoje, de cada 10 cooperados do Ramo Agropecuário do estado de Minas Gerais, apenas uma é mulher. Uma realidade que deve mudar nos próximos anos, graças ao apoio de projetos como o Elas pelo Coop — comitê de mulheres do Sistema Ocemg, grupo de trabalho de caráter consultivo criado para propor políticas e programas que ajudem a ampliar a participação feminina no coop, especialmente em cargos de liderança.
“Queremos ver cada vez mais mulheres na presidência, nos Conselhos de Administração e em cargos de liderança em nossas cooperativas”, afirma Andrea Sayar, gerente de Educação e Desenvolvimento Sustentável no Sistema Ocemg. “A presença delas é fundamental para garantir o crescimento, a modernização e a sustentabilidade do cooperativismo.”
RETRATO MINEIRO
Os agricultores familiares, em sua maioria, trabalham em pequenas propriedades, com a produção sendo voltada para o sustento de sua família e para a comercialização local. Com técnicas sustentáveis e conhecimento empírico, esses agricultores cultivam diferentes alimentos, garantindo uma diversidade que enriquece a mesa dos brasileiros.
Para o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato, a atividade dos pequenos produtores reduz a insegurança alimentar e fortalece a economia.
“A agricultura familiar corresponde a mais de 70% da produção agrícola do estado. Estes trabalhadores ofertam os produtos para a população local com preços mais acessíveis”, afirma.
Segundo o último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Minas Gerais possui 441,8 mil estabelecimentos de agricultura familiar, sendo o segundo estado brasileiro com maior número de trabalhadores no setor – cerca de um milhão de pessoas. A Bahia ocupa o primeiro lugar no ranking nacional.
Na última semana de julho, os dias Estadual e Nacional da Agricultura Familiar homenageiam os trabalhadores do ramo, que são responsáveis por 40% da renda da população ativa no campo. Apesar da relevância no contexto socioeconômico, o agricultor familiar ainda enfrenta dificuldades de acesso a crédito e oscilações de preços no mercado. Nesse sentido, políticas públicas que incentivem e apoiem o setor são fundamentais para garantir a continuidade e o crescimento da atividade essencial para os mineiros.
ENTENDA O CONCEITO DE AGRICULTURA FAMILIAR
A agricultura familiar é reconhecida por sua produção agropecuária em áreas de até quatro módulos fiscais — unidade de medida que pode variar entre municípios e regiões do país, correspondendo a hectares específicos.
Nesse modelo, a produção é conduzida com o trabalho da própria família, que se dedica às atividades econômicas, sendo um pilar fundamental para a subsistência e o desenvolvimento rural.
Outra característica do ramo é a policultura, que significa o plantio de diversos tipos de produtos, como legumes, verduras, frutas, e animais, com destaque para a mandioca, milho, café, feijão, arroz, leite, além das carnes suína, bovina e de aves.
Dentro dos pilares do cooperativismo, vale destacar que a agricultura familiar adota práticas tradicionais de cultivo, com baixo impacto ambiental. Em outras palavras, ela tem sido uma importante aliada da sustentabilidade e da responsabilidade socioambiental.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2014 como o “Ano Internacional da Agricultura Familiar”, que representou um grande passo para o reconhecimento da importância da agricultura familiar no mundo.
