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Economia fragilizada x Consumo: Balanço do coronavírus aponta saldo positivo para o agro brasileiro

03/04/2020
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A pandemia do coronavírus causou efeitos tão agressivos na economia global que acendeu luzes de alerta em todos os setores mundo a fora e para o agronegócio não é diferente. Especialistas de todas as partes afirmam que o agro deverá ser um dos setores menos atingidos pela pior crise desde a última de 2008/2009, porém, as preocupações são tão intensas quanto em qualquer outra frente.

O índice de preços dos alimentos da FAO, o braço para alimentação e agricultura da ONU (Organização das Nações Unidas) registrou uma baixa de 4,3% em março. O maior recuo veio do açúcar e dos óleos vegetais, enquanto o arroz subiu. “As quedas de preços são, em grande parte, motivadas pela demanda, que é diretamente influenciada pelas perspectivas econômicas cada vez mais deterioradas”, disse o economista sênior da FAO, Abdolreza Abbassian.

“Os impactos são brutais, a começar pelo setor de serviços, que tomba de imediato, seguido da indústria e, por fim, a agricultura, uma vez que a comida é a última coisa a ser cortada por quem perde o trabalho e a renda”, explica o Prof. Dr. Marcos Fava Neves, professor das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

De um lado, produtores estão atentos ao consumo diante do comprometimento da renda de populações em diversas partes do mundo, na outra ponta há uma intensificação da necessidade de se garantir a segurança alimentar global. E há ainda um terceiro viés, que é a agricultura que não produz comida, mas itens como fibras e combustíveis, que também passam por uma crise neste momento.

“Os estoques globais de grãos e oleaginosas são suficientes para atender à demanda, mas a cadeia de suprimentos enfrenta vários gargalos sensíveis. Embora alimentos e energia sejam considerados essenciais, o fechamento de algumas indústrias, ativos ou regiões podem oferecer desafios aos suprimentos globais”, resume o estrategista global de grãos e oleaginosas e líder dos mercados agrícolas do Rabobank, Stefan Vogel.

Por enquanto, o que se observa ainda são famílias consumindo e estocando itens de sua alimentação básica no Brasil e no mundo. Não só famílias, mas países também constroem estoques de comida diante de tantas incertezas. A grande questão agora é até quando terão renda para continuarem consumindo em ritmo normal. Mais do que isso, estão fechados bares, restaurantes, hoteis, escolas, e o consumo está, praticamente, confinado às casas.

“Tudo depende de quanto este surto vai durar. De imediato não devemos ver o consumo ser limitado pela renda, a não ser em países subdesenvolvidos. E não é isso que estamos vendo no momento. Mas claro, uma situação prolongada pode fazer com que a renda menor se transforme também em consumo menor”, acredita Steve Cachia, consultor de mercado da Cerealpar e da AgroCulte. “Se a situação não for controlada, há risco de nova crise na segurança alimentar mundial. Com regiões bem abastecidas e outras registrando mais gente passando fome”, completa.

Cachia complementa dizendo que “seja como for, a população precisa estar bem alimentada para combater qualquer doença”. No entanto, chama a atenção para dois comportamentos: um é a aversão por alguns setores ao consumo de carne, “já que as pessoas associam o Covid-19 como uma doença vinda de animais ou têm a errada impressão de que o Covid-19 pode ser transmitido em animais também, e outro é no setor de hortifrutis, onde produtores em alguns países estão tendo dificuldade em comercializar seus produtos além da região de produção devido ao risco de algum problema de logística”.

O dilema da economia mundial fragilizada versus o consumo global de itens do agronegócio, portanto, ainda deve durar por alguns meses. Neste período, o Brasil precisa, portanto, se fortalecer para mitigar os impactos da crise na maior robustez do agronegócio para ultrapassá-la.

“O Brasil deve se posicionar para se oferecer como alternativa a um possível movimento de volta de políticas de seguridade alimentar em muitos países, depois dessa crise. É uma possibilidade, apesar que muitos não têm recursos e competência para executar políticas de produção própria de suas necessidades alimentares”, explica Fava Neves.

ECONOMIA FRAGILIZADA x CONSUMO

As principais economias em todo mundo alinham medidas que possam amenizar os impactos da crise que, segundo alguns especialistas, é a maior e mais grave desta geração. Outros referem-se a ela como a pior desde a Segunda Guerra Mundial.

Assim, ainda como explica o professor, ao redor de todo o globo é possível registrar políticas de todos os tipos sendo desenhadas e minunciosamente estudadas que incluem medidas como “políticas de cortes de juros, injeção de liquidez, linhas de crédito, alívio fiscal, supressão de obstáculos regulatórios, expansão do gasto público, retomada da confiança, envio de recursos às pessoas mais necessitadas, estímulos às pequenas e médias empresas, simplificação de estruturas decisórias, prêmios de seguro-desemprego às empresas que mantiverem empregos e acelerar projetos de infraestrutura”.

“Há uma vontade grande em governos e na sociedade de prover suporte a quem precisar. Esta injeção de recursos pode beneficiar o consumo de alimentos”, diz Fava Neves.

No Zimbábue, por exemplo, há uma necessidade urgente de ajuda, uma vez que, como explicou o FMI (Fundo Monetário Internacional, o coronavírus agrava uma já registrada escassez de alimentos após a pior seca no país em quase 40 anos.

DÓLAR X CUSTOS DE PRODUÇÃO

Com tamanha incerteza e aversão ao risco, há uma forte corrida dos investidores para o dólar e uma desvalorização intensa das demais moedas. E uma das divisas que mais perde é o real. Somente no acumulado de 2020, a alta da dólar é de 32,72%.

Nesta semana, a moeda subiu 4,3% para renovar sua máxima histórica e fechar com R$ 5,32.

É consenso entre analistas e consultores de mercado que o produtor brasileiro terá custos mais elevados na próxima safra, porém, ainda sente o colchão que o dólar traz ao setor com a vantagem cambial no momento das exportações.

Todavia, a diferença de impacto para cada setor da agropecuária brasileira sentirá de forma diferente os impactos da formação de seus custos em um cenário ainda desconhecido, nebuloso e de extrema volatilidade. Atrelado ao câmbio, tudo aquilo que é importado entre os insumos deverá onerar um pouco mais o produtor, porém, a queda do petróleo e seus menores preços em mais de uma década podem trazer algum equilíbrio.

NESTES SETORES, SEGUE A DEMANDA

GRÃOS E OLEAGINOSAS

Entre os grãos e oleaginosas, as expectativas são positivas. Além do consumo direto, ambos são matéria-prima para a produção de proteínas animais, leite e derivados, ovos, enfim, itens da alimentação básica em qualquer país do mundo. E por mais que seus preços tenham sido duramente afetados pela intensa volatilidade que chegou junto com 2020, soja e milho, em reais, por exemplo, estão nos melhores momentos da história. São valores que superam R$ 105,00 por saca para a soja nos portos brasileiros e, para o milho, passam de R$ 60,00 no interior.

“Os preços da maioria dos grãos e oleaginosas foram voláteis até agora em 2020 e tiveram um desempenho muito melhor do que a maioria dos preços das commodities”, explica o exevcutivo do Rabobank. E o banco internacional não estima uma mudança muito intensa deste quadro de produção de grãos e oleaginosas para a temporada 2020/21.

A instituição afirma ainda que embora o momento seja de cautela e pessoas repensando seu consumo, a demanda por grãos e oleaginosas é consistente e acompanha o crescimento da população mundial. São mais pessoas consumindo mais arroz, trigo, farinha e amido.

CARNES

O professor Fava Neves explica ainda que entre as carnes o Braisl também ganha destaque, principalmente por parte da China. “O país deve entrar firme comprando carnes e outros produtos do agro brasileiro neste semestre, sendo um fator positivo para nós, levantando os preços da arroba no Brasil e também das outras carnes”.

No entanto, ressalta que algumas cadeias como “entrar firme comprando carnes e outros produtos do agro brasileiro neste semestre, sendo um fator positivo para nós, levantando os preços da arroba no Brasil e também das outras carnes”.

EFEITOS NEGATIVOS: SETORES MAIS AFETADOS

O que não é necessário, neste momento, já contabiliza prejuízos e resultados bem negativos e um curto espaço de tempo.

O Rabobank espera que alguns dos setores mais afetados, com reduções mais profundas de demanda, possam ser o de biocombustíveis, “na medida em que há milhares de pessoas passando pelo isolamento social e também devido ao impacto negativo dos baixos preços do petróleo”, e citou ainda o de maltagem, com “o fechamento de bares e restaurantes, bem como o cancelamento de eventos e festivais de esportes, o que provavelmente prejudicará a demanda de cerveja”.

Para o algodão, as perspectivas ao menos no curto e médio prazos também não são positivas. Segundo explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, o algodão é uma das commodities mais afetadas pela crise causada pela Covid-19, uma vez que é matéria-prima para itens que terão seu consumo bastante reduzido, principalmente em tempos de quarentenas gerais em todo o globo.

Segundo analistas internacionais, o mercado do algodão deverá sentir os efeitos também no longo prazo, já que as projeções indicam para uma recessão na economia global, podendo afetar toda a cadeia de consumo. A demanda mundial por algodão está em cerca de 118 milhões de fardos, uma baixa de 5 milhões de fardos em relação ao pico de 2017.

No Brasil, o setor de flores e plantas ornamentais acumula um prejuízo de R$ 300 milhões e que pode chegar a R$ 1 bilhão até o dia das mães, segundo cálculos do Ibraflor (Instituto Brasileiro de Flores).

E OS DEMAIS?

Há muitos outros setores ainda contabilizando seus saldos e buscando entender quais caminhos tomarão neste ‘novo normal’ que se instalou no mundo e mudou a direção de quase todos os mercados. No tabaco, por exemplo, as vendas subiram, com as pessoas fumando mais estando mais tempo em casa. No café, o mercado ainda não pôde precisar como ficará a demanda com o aumento do consumo doméstico e a redução fora de casa. Entre o suco de laranja, o leite, as frutas, verduras e legumes, aumento de demanda, mas sensibilidade logística.

O Notícias Agrícolas segue acompanhando passo a passo, mercado a mercado, como este novo momento da economia mundial pesará sobre sobre os setores do momento do plantio aos lares do consumidor final.

Por: Carla Mendes| Instagram@jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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