Cooperativas de Governador Valadares unem forças para criar projeto de voluntariado que já beneficiou 30 mil pessoas em nove anos
Quantas mãos são necessárias para construir o muro de uma creche? Ou para evitar que uma instituição de acolhimento de idosos seja fechada por não ter uma cozinha em condições de funcionamento? Em Governador Valadares, no leste de Minas Gerais, uma aliança cooperativista está conseguindo reunir mais de 10 mil voluntários para tarefas como essas e em várias outras frentes de construção de um futuro melhor para as pessoas e comunidades locais.
Tudo começou em 2009, quando o Sistema Ocemg tinha acabado de criar o Dia de Cooperar, o Dia C, para mostrar à sociedade um pouco do que as coops mineiras estavam fazendo pelas comunidades onde atuavam.
“Nosso time foi até Governador Valadares convidar as cooperativas da região para fazerem parte do evento”, recorda o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato. “Elas aceitaram, mas no início vinham separadas. Daí um dia eu provoquei: por que vocês de Valadares não vêm juntos? Alguns anos depois, elas começaram a realizar ações sociais conjuntamente, gerando resultados cada vez melhores para a comunidade. Essa união, com o tempo, deu origem ao Ecoos — Elo Cooperativista Social, um projeto de intercooperação que deveria servir de exemplo para as cooperativas de todo o Brasil”.
Oficialmente lançado em 2014, o Eccos reúne cinco organizações cooperativistas: a Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce (Coaperiodoce), o Sicoob AC Credi, o Sicoob Crediriodoce, a Unimed Governador Valadares e a Unimed Intrafederativa. Juntas, elas participam de uma aliança que tem mostrado, na prática, como o cooperativismo transforma a realidade por meio da ajuda mútua, indo muito além de um modelo de negócios.
“A primeira grande realização da Ecoos foi justamente a integração entre nossas cooperativas, as diretorias, nossos colaboradores, os cooperados e a comunidade de forma geral”, pondera o presidente da Coaperiodoce, João Marques.
IMPACTO SOCIAL
A aliança entre as cooperativas valadarenses tem ajudado a melhorar a região com ações sociais que ajudam a saciar a fome, promover a saúde e a melhorar a infraestrutura de espaços coletivos. Existem, ainda, projetos que alimentam a alma, com direito à música e poesia.
Na Creche Brilho de Turmalina, em um dos bairros de maior vulnerabilidade social de Governador Valadares, a intercooperação ajudou a tirar do papel uma obra que era grande demais para a instituição realizar sozinha.
“Nós tínhamos a necessidade de murar a creche. Na verdade, era nosso sonho fazer esse muro. E as cooperativas vieram para fazer o muro e fizeram muito mais coisas. Vendo a necessidade de calçar o pátio – porque antes era tudo terra, havia muito barro – conseguiram também fazer o piso. E também arrumaram a estrutura da cozinha, a pia, consertaram cerâmicas que estavam quebradas”, lembra a pedagoga da creche Brilho de Turmalina, Magna Lúcia.
No Lar dos Velhinhos da Sociedade São Vicente de Paulo, a ação da aliança de cooperativas mineiras foi determinante para manter a instituição de portas abertas e garantir abrigo para cerca de 30 idosos. Em 2014, a casa de repouso corria o risco de ser fechada porque a cozinha do lugar não atendia às condições da Vigilância Sanitária.
“O Ministério Público queria fechar a instituição porque a cozinha não estava de acordo com as normas sanitárias. E são coisas difíceis de exigir para quem vive de doações. Por meio da Ecoos, juntamos os recursos e fizemos uma cozinha nova, dentro dos padrões da Vigilância Sanitária, com equipamentos novos”, recorda o presidente do Conselho de Administração do Sicoob AC Credi, Ivo de Tassis Filho, que também preside atualmente o Ecoos.
A reforma da cozinha do Lar dos Velhinhos é só mais uma das ações realizadas pelo projeto intercooperativo, em quase dez anos de atuação. A lista é bem grande, com projetos que beneficiam diretamente dez instituições de Governador Valadares e região e centenas de ações desenvolvidas em várias áreas ao longo dos anos.
Juntas, as cooperativas da Ecoos também já desenvolveram campanhas de arrecadação de alimentos, de doação de recursos para instituições beneficentes, de atendimento à saúde em regiões carentes, de incentivo à doação de sangue e medula, além de iniciativas educacionais, ambientais e de cidadania.
Segundo Tassi Filho, a aliança valadarense já beneficiou mais de 30 mil pessoas, resultado viabilizado pela intercooperação, a ajuda mútua que move o cooperativismo. “Quando decidimos fazer uma aliança, o objetivo foi mostrar para a população o que o cooperativismo é capaz de trazer em termos de desenvolvimento regional, mostrar o que podemos fazer juntos. Além de ser um sistema de gestão extremamente justo e democrático, o cooperativismo tem compromisso com a comunidade em que está inserido”, explica.
NOVOS RUMOS
O respeito à diversidade é uma das principais marcas do Eccos. Assim como o projeto reúne cooperativas de três ramos — Agropecuário, Crédito e Saúde –, as iniciativas sociais também são plurais e independem da área de atuação das cooperativas.
“Nosso critério é atender a quem precisa, colocando em prática o 7º princípio cooperativista, que trata do compromisso com a comunidade”, destaca Tasso Filho, presidente do Ecoos.
Os projetos que recebem o apoio dessa aliança intercooperativa são definidos de forma conjunta, de acordo com as necessidades e o contexto social da região. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, as cooperativas da coalizão se mobilizaram para produzir e doar 400 mil máscaras, distribuíram álcool gel e produtos de limpeza em bairros pobres e mantiveram o suporte a entidades assistenciais em um momento em que as doações ficaram limitadas.
Para garantir que as ações sociais sejam cada vez mais assertivas, a definição dos projetos do Ecoos passará a ser feita com o auxílio de uma ferramenta que tem sido grande aliada do cooperativismo: a análise de dados.
“Começamos uma nova etapa, com o apoio do Laboratório de Inovação do Sicoob AC Credi, na qual estamos buscando o que cada cooperativa vê de mais interessante e premente para que a gente possa aplicar os nossos esforços em cima daquele objetivo”, antecipa Tassi Filho.
Segundo João Marques, da Coaperiodoce, nesta nova etapa, o Eccos também pretende investir em projetos com benefícios mais duradouros para as comunidades. “Estamos fazendo uma reestruturação, fizemos um planejamento estratégico e vamos propor ações mais duráveis, mais perenes, para dar continuidade a essa grande mobilização cooperativista no Vale do Rio Doce”.
A ideia é também desenvolver indicadores para medir o impacto das ações sociais do grupo e poder apresentar à sociedade as contribuições das cooperativas para o desenvolvimento da região. “Trabalhando de forma mais científica, mais profícua, temos a melhor aplicação dos recursos, com mais direcionamento, e fica mais fácil medir os resultados das ações que a gente faz”, pondera Tassi Filho.
ARTE E CULTURA
Além dos projetos com resultados que podem ser contados em números e cifras, o Ecoos desenvolve iniciativas que têm um valor incalculável e alimentam a alma e o coração. A aliança cooperativista sabe que a conexão com as comunidades também se dá por meio da cultura, e por isso tem uma série de atividades que valorizam a arte, o conhecimento popular e as tradições da região.
Uma delas é o GV Canta Cooperativismo, concurso musical voltado para músicos profissionais e amadores que premia composições inspiradas nos princípios e valores do cooperativismo. O evento já está na quinta edição e as canções selecionadas são gravadas em estúdio profissional como parte do prêmio.
Já o Concurso Poeta da Melhor Idade aposta na sabedoria de quem já viveu muito para contar o cooperativismo em versos e incentivar a produção cultural por pessoas com mais de 60 anos.
A iniciativa cultural mais recente da aliança cooperativista, criada em 2022, é o concurso de fotografia Coop em Foco, que premia trabalhos fotográficos inspirados no cooperativismo.
Todos os anos, uma grande festa junina organizada pelo Ecoos combina as atividades culturais e sociais da aliança. O tradicional Arraiá Solidário reúne a comunidade em uma festa com comidas típicas da região e o dinheiro arrecadado é destinado às instituições apoiadas pelas cooperativas.
E a sua cooperativa, já participa do Dia de Cooperar? Acesse o site do Dia C, conheça e participe dessa inciativa.
Esta matéria é parte integrante da primeira edição da “Cooperação em Revista”. Leia a edição completa no link.