Considerado um dos maiores experts em Gestão Estratégica e Vendas do país, com cerca de 30 anos de experiência no setor, Sandro Magaldi atuou em posições de liderança em diversas companhias, como na HSM, uma das principais empresas de educação executiva do Brasil. Em sua carreira acadêmica, atua como professor na ESPM e Fundação Dom Cabral (FDC). Magaldi é ainda cofundador do meuSucesso.com, plataforma focada em empreendedorismo, que impacta milhões de empreendedores em todo o país. Entrevistado do Jornal Cooperação, o empreendedor aponta as pessoas, e não a tecnologia, como o cerne do processo de transformação pelo qual o mercado tem passado. Além disso, Magaldi alerta que para conseguir sucesso e longevidade em qualquer negócio é preciso que o cliente seja o foco de todas as reflexões sobre a estratégia do negócio.
Como lidar com as transformações tecnológicas que ocorrem em ritmo acelerado no mundo atual e se manter competitivo no mercado?
Um dos principais imperativos, atualmente, para qualquer indivíduo ou organização é, justamente, manter-se em linha com as evoluções da sociedade que impactam, fortemente, o ambiente empresarial. Para estar alinhado com esse novo contexto é necessário adotar uma postura e comportamento de eterno aprendizado. Como as mudanças são instáveis e imprevisíveis, não existem mais respostas prontas à disposição de todos. Nesse novo ambiente, a capacidade de fazer perguntas certeiras, que geram reflexão, é a estratégia mais relevante a ser nutrida. Estar disposto a aprender sempre; manter a inquietude e abertura perante ao novo, pesquisando fontes, estudos e referências valiosas e, sobretudo, ter a humildade de reconhecer que, nesse novo mundo, todas as verdades absolutas estão sendo questionadas, são posturas fundamentais para lidar com toda a complexidade desse novo ambiente em mutação.
As cooperativas têm as pessoas como foco principal. O que elas devem observar em relação às novas tecnologias para melhorar o atendimento ao seu público, sem perder o lado humano do negócio?
É imperativo entender que o cerne da transformação tão demandada e requerida não está na tecnologia. Está nas pessoas. O processo de transformação só acontecerá em sua plenitude se as pessoas agirem em prol dessa mudança. Assim, é necessário colocar o ser humano no centro das reflexões sobre as transformações e entender como a tecnologia pode ser um meio poderoso nessa transição. A tecnologia existe para servir o indivíduo e, como tal, deve haver um pensamento estratégico sobre quais são as melhores opções que garantam melhor sintonia com o mercado e suas demandas, sem perder a essência das cooperativas, que são as relações humanas. Não só é possível, como mandatório, aliar essas duas instâncias: melhores tecnologias integradas à valorização do ser humano.
O que as cooperativas precisam fazer para trabalhar de forma disruptiva e mais abertas para mudanças?
É necessário envolver a todos na reflexão sobre a aderência do negócio a esse novo ambiente. Uma instância fundamental nessa reflexão diz respeito à cultura organizacional existente na cooperativa. Como na essência das transformações estão as pessoas, é a cultura da organização o sistema que representa suas crenças, valores e visão de mundo. A liderança tem papel fundamental no processo de modelagem dos elementos a esse novo ambiente, porém, sem a adesão de todos os colaboradores, nada acontece. Sendo assim, é necessário refletir sobre quais elementos da cultura atual da organização devem ser revistos e quais novos devem ser incorporados, visando a construção de um ambiente mais aberto ao novo, que responda com mais agilidade e assertividade às demandas do ambiente e ameaças de novos entrantes que se multiplicam.
O comportamento do cliente está diferente: eles esperam o inesperado dos seus fornecedores de serviços e produtos. Como as cooperativas devem se preparar para atender a essas expectativas e fidelizar o cliente que tem esse novo perfil?
Retomo o tema da relevância de uma cultura organizacional alinhada às demandas do ambiente. Esse ambiente requer que as organizações sejam totalmente centradas no cliente. Existe um termo, em inglês, muito feliz na tradução dessa perspectiva: customer centricity (algo como, ?centralidade no cliente?, em uma tradução literal). Em um ambiente com clientes cada vez mais exigentes e com opções de compra, estão prosperando as organizações que colocam o cliente no centro de sua jornada de entrega de valor e refletem sobre todos os aspectos de seu produto ou serviço tendo esse agente como protagonista principal da sua estratégia. Não há mais alternativas para pensar o sucesso de um negócio longevo e sustentável: é necessário colocar o cliente no centro de todas as reflexões sobre a estratégia do negócio.
Qual é a importância de começar a pensar na gestão do amanhã para o negócio cooperativo hoje?
Não há alternativas. A velocidade das mudanças alcançou um nível estratosférico e o que era pensado e refletido como um processo de transformação que levaria décadas, agora leva meses. Ao não refletir hoje sobre seu negócio no amanhã, os líderes das cooperativas estão colocando em risco eminente o futuro breve de seu projeto bem como o impacto positivo junto a toda sua rede de cooperados. Faz parte da missão do líder pensar e atuar, de forma propositiva, tendo como objetivo a sustentabilidade de seu negócio e a entrega de valor aos seus colaboradores e, no caso das cooperativas, a seus cooperados. Ao negligenciar o olhar para o futuro, o líder está negligenciando seu próprio papel como articulador dessa caminhada.