A competitividade das organizações também passa pela incorporação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU no cotidiano dos negócios. E as cooperativas saem na frente nesse sentido, tendo em vista a proximidade com seus públicos, o que facilita colocar em prática ações que geram valor para as comunidades nas quais atuam. É o que explica Rafael Tello, assessor e mentor na Watu Sustentabilidade, professor na Fundação Dom Cabral (FDC) e na HSM, além de coordenador da rede Desafio 2030. O profissional, que também é instrutor do curso de ODS do Sistema Ocemg, ressalta em entrevista as particularidades do cooperativismo na contribuição para o atingimento dos ODS. Ele conta sobre os próximos passos da rede, que tem a Unidade Estadual mineira como integrante. Confira!
Incorporar os ODS na prática das organizações, cooperativas e empresas é um desafio. Na sua opinião, qual é o primeiro passo para uma cooperativa começar a se alinhar aos ODS no seu cotidiano?
O primeiro passo é fazer uma escuta ampla dos seus públicos de interesse ou stakeholders. Vem sendo defendido por uma série de organizações, como o Fórum Econômico Mundial e o Business Roundtable, que o capitalismo neste século será baseado em empresas e cooperativas capazes de gerar valor para seus diferentes públicos. Desse modo, a escuta e o entendimento das necessidades e expectativas são fundamentais para que se crie competência na oferta de valor para todos, resultando em sustentabilidade para as organizações. Em minha atuação profissional, utilizo os ODS como base para essa escuta. Assim, por um lado, abordamos os principais assuntos ambientais, econômicos, sociais e de governança no diálogo com os stakeholders. Por outro, temos insumos para definir metas e construir estratégias, não apenas adequadas para nossos clientes, mas que respondam às demandas da sociedade global para essa década.
Quais particularidades do cooperativismo favorecem a adoção de medidas e ações com vistas ao atingimento dos ODS?
O cooperativismo é marcado por possuir relações mais próximas e fortes com seus grupos de interesse, sejam cooperados, funcionários, fornecedores ou a comunidade local. Essa é uma característica marcante e que traz um potencial muito grande para que as cooperativas promovam sustentabilidade dentro e fora de suas organizações. O entendimento de demandas e expectativas dos stakeholders é fundamental para incorporação da sustentabilidade nos negócios. Acredito que as cooperativas se destacam em relação às outras organizações pela proximidade e confiança estabelecidos ao longo de sua história. Dada a sua reputação, elas têm grande potencial para disseminarem os ODS nas comunidades, criando espaço para colaboração, gerando valor ambiental, econômico e social para todos os atores e fomentando o desenvolvimento sustentável em seus espaços de atuação.
Como surgiu a ideia de fundar a rede Desafio 2030? E quais são seus principais objetivos?
A rede Desafio 2030 surgiu como uma tentativa de se criar um fórum de discussão de sustentabilidade para o setor produtivo em Minas Gerais. Reunimos três empresas e uma cooperativa em 2019 para estruturar essa proposta. Com o passar do tempo, percebemos que todas as organizações tinham interesse em trabalhar com os ODS, mas não possuíam conhecimento suficiente para avançar no tema. Assim, orientamos nossa discussão para os objetivos propostos pela ONU e definimos nossa visão: ajudar os associados a criarem metodologias, instrumentos e tecnologias para utilizarem os ODS como orientadores estratégicos de seus negócios. Essa visão é influenciada pelo professor Michael Porter, da Harvard Business School, que defende o conceito de Valor Compartilhado, destacando que onde estão os maiores problemas do mundo, estão também as maiores oportunidades de mercado. Nesse sentido, defendemos que nossas associadas busquem criar soluções e negócios que atendam aos ODS, pois eles sintetizam as grandes demandas da sociedade global, indicando grandes mercados, que, se corretamente explorados, permitirão que as empresas e cooperativas de nossa rede se diferenciem, cresçam e gerem mais valor para seus públicos. No fim do ano passado firmamos uma parceria com a rede Brasil do Pacto Global, nos tornando seus parceiros exclusivos do Estado, e formalizando a criação do Hub ODS MG, que será responsável pela disseminação dos princípios do Pacto Global e dos ODS em Minas Gerais e pela promoção da economia verde em nossa região.
Quais são os próximos passos da Rede Desafio 2030, principalmente, tendo em vista o cenário pandêmico vivido e seus desdobramentos no presente e nos próximos anos?
Estamos trabalhando em duas frentes. Na frente de planejamento, organizamos a estratégia 2021 do Hub ODS MG e estamos fechando nosso planejamento de comunicação anual. Essas duas atividades são fundamentais para o correto posicionamento do grupo na sociedade e para o fortalecimento de nossa atuação. A segunda frente está relacionada a projetos. Fizemos recentemente a primeira feira de projetos, na qual nossas associadas apresentaram ações que estavam realizando e convidaram as outras organizações para colaborarem, buscando aumentar o impacto delas. Como exemplo, atualmente, quatro associadas nossas estão trabalhando para criar materiais de orientação para que empresas e cooperativas realizem ações de captação de recursos incentivados via imposto de renda junto a seus cooperados e colaboradores. Temos ainda quatro projetos ligados a diferentes ODS sendo discutidos para serem executados este ano, em cooperação, dentro da Rede Desafio 2030.