Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que o preço do leite cru captado por laticínios em fevereiro chegou a R$ 2,7276/litro na “Média Brasil” líquida, altas de 1,6% frente à de janeiro/23 e de 16,9% em relação à de fevereiro do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de fevereiro/23). Com isso, o valor do leite cru acumulou alta real de 6,7% no primeiro bimestre de 2023. Esse movimento de valorização deve persistir em março, apesar do recuo observado no mercado de derivados naquele mês.
A oferta enxuta no campo foi o principal fator de influência na precificação do leite cru e dos lácteos no 1° trimestre, refletindo a perda do potencial produtivo ocorrida no ano passado e o clima adverso, resultado do fenômeno La Niña. O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) recuou 1,8% de janeiro para fevereiro na “Média Brasil”, e a expectativa dos agentes do setor é de que, em março, a produção tenha se mantido limitada. Nesse contexto, os laticínios têm disputado mais produtores, e as cotações do leite cru devem se sustentar em patamares mais elevados do que em março do ano passado.
Ainda assim, é preciso pontuar que esse movimento de alta no campo não foi absorvido pelo consumidor na ponta final da cadeia, uma vez que a demanda se mostra fragilizada, sobretudo por conta do menor poder de compra do brasileiro. A pesquisa do Cepea em parceria com a OCB mostra que as cotações do UHT e da muçarela negociados entre laticínios e canais de distribuição caíram 1,77% e 4,34%, respectivamente (ver seção Derivados, na página 5).
Outro fator que explica o aumento dos estoques e a consequente diminuição dos preços dos derivados em março é o aumento das importações. Dados da Secex mostram que, no 1° trimestre, o volume importado foi três vezes maior que o do mesmo período do ano passado. Apenas em março, foram internalizados 209,5 milhões de litros em equivalente leite (ver seção Mercado Internacional, na página 6). Essa quantidade representa cerca de 10% do total de leite cru industrializado pelos laticínios brasileiros (levando-se em conta a média dos volumes de mar/20, mar/21 e mar/22 da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE).
Nesse contexto, os preços do leite spot permaneceram em queda entre a 2ª quinzena de fevereiro e a 1ª quinzena de março. Em Minas Gerais, a média mensal de março caiu 1,6% frente a fevereiro, fechando a R$ 3,00/litro. Porém, desde a 2ª quinzena de março, o spot mostra recuperação, sinalizando que a oferta no campo ainda não se elevou como o esperado, nem mesmo
com o cenário de custos um pouco mais vantajoso ao produtor.
Agentes do setor acreditam que os preços do leite cru podem seguir firmes em abril em decorrência da aproximação do período de entressafra e da consequente diminuição da produção no campo. Contudo, a demanda enfraquecida e o aumento das importações podem frear a intensidade desse movimento. Inclusive, na percepção dos agentes do setor, esses dois fatores têm potencial para amenizar as variações a partir de maio, o que implica na expectativa de um 2° trimestre menos volátil que o do ano anterior.