Com a opção por um cultivo sustentável, agricultor familiar transformou o objeto reciclado em canteiros.
A produção mineira de morango está concentrada no Sul do Estado. A região responde por 86% da safra estadual, com 100 mil toneladas da fruta por ano.
Não por acaso, a busca por novas tecnologias e inovações está sempre presente nas propriedades. E como a atividade é caracterizada pelo cultivo familiar, são das pequenas plantações que surgem as boas experiências, muitas vezes sem grandes investimentos.
Um exemplo está no Sítio Santo Antônio, que fica na comunidade do Pessegueiro, no município de Extrema.
O agricultor familiar Jorivaldo de Andrade já tinha experiência com o cultivo de hortaliças sem uso de agrotóxicos ou fertilizantes sintéticos. Foi quando, em 2017, incentivado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater–MG), decidiu dar um novo passo e também produzir morangos orgânicos.
“Eu abracei a ideia. Se eu fosse produzir o morango convencional, eu seria apenas mais um no mercado. Além disso, tem a parte de bem-estar. Minha mulher valoriza produtos orgânicos. Tenho uma filha pequena que pode, tranquilamente, pegar o morango que produzo e colocar na boca”, comenta.
Mas não é só o sistema orgânico que chama a atenção na propriedade. A estrutura utilizada no plantio também foge do convencional. Seguindo o caminho da sustentabilidade, Jorivaldo transformou calhas em canteiros.
Elas são feitas de material reciclado e ficam suspensas por cavaletes de madeira. As calhas, preenchidas pelo composto orgânico, são duráveis e podem ser usadas por vários ciclos da cultura.
“Além do material reciclado, mais sustentável, as calhas suspensas favorecem o manejo. São frequentes os depoimentos de produtores de morango com dores na coluna por trabalharem muito tempo agachados para cuidar dos canteiros convencionais, que ficam no chão”, explica o engenheiro agrônomo da Emater-MG em Extrema, Hélio João de Freitas Neto.
Para fazer o projeto, o produtor precisou construir uma pequena estufa de 175 m², os cavaletes de madeira, além de instalar um sistema de irrigação por gotejamento, o mais adequado para a produção da fruta. A Emater-MG viabilizou as mudas; já as calhas foram doadas por uma indústria de São Paulo especializada em produtos reciclados. “A adaptação das calhas para transformá-las em canteiros é simples. A principal medida é fazer os furos para drenagem da água”, explica Hélio Neto.
O técnico da Emater-MG também conta que, junto com o produtor, foram testados seis diferentes tipos de composto orgânico para verificar o que melhor se adaptava à cultura. A cada ciclo de produção, o composto que fi ca nas calhas precisa ser reforçado ou substituído. Já para selecionar a variedade de morango, foram testadas oito opções e a escolhida foi a PRA Estiva, que produz o ano todo. “Não existe receita de bolo. Tem que observar para ver o que dá certo”.
Produção e venda – A produção obtida no Sítio Santo Antônio é a mesma registrada nos plantios convencionais da região, cerca de 1 quilo por pé. “Estou muito satisfeito com a produção de morangos. A produção não é grande, já que eu cuido dela sozinho. Na verdade, eu e Deus. Mas faço o que gosto”, comenta Jorivaldo. As vendas estão a todo vapor. Ele está conseguindo o valor de R$ 25,00 por quilo, preço acima da média do mercado. A clientela é variada. Jorivaldo conta que vende a fruta para amigos, para uma escola do município e para um restaurante de Monte Verde, município turístico na Serra da Mantiqueira, divisa com São Paulo. “O dono do restaurante veio aqui para conhecer os morangos e trouxe uns cozinheiros de São Paulo. Eles gostaram e disseram que poderiam comprar tudo que eu tivesse para fornecer”.
Exemplo – O Sítio Santo Antônio está em fase de adaptação para conseguir, em breve, de uma certificadora, o selo de propriedade orgânica. Mas a produção de morango já está atraindo a atenção de outros agricultores da região. A propriedade vem recebendo visitas de pessoas interessadas em conhecer o sistema de produção orgânica em calhas recicladas. Na comunidade vizinha, já há produtor do morango convencional usando o material reciclado para fazer os canteiros. (Com informações da Emater-MG).
Fonte: Diário do Comércio