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Representantes do agro e do cooperativismo falam sobre fornecimento de fertilizantes e possíveis soluções para suprir a demanda

19/04/2022
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Para traçar um panorama do fornecimento e disponibilidade dos fertilizantes para a produção agrícola no país e em Minas, o Sistema Ocemg convidou a assessora econômica do Sistema Faemg, Aline Veloso, e o Superintendente de Desenvolvimento do Cooperado da Cooxupé, José Eduardo Santos Júnior. Soluções nacionais, orgânicas e sustentáveis estão entre as proposições de ambos. Confira a entrevista!

O conflito entre Rússia e Ucrânia traz impactos em diferentes setores em todo o mundo. No agronegócio, preocupa a possível falta de insumos, visto que os envolvidos são potências como fornecedores. Diante disso, existe uma saída a curto prazo para o problema?

Aline Veloso: O Brasil é o 4ª maior consumidor de fertilizantes, com cerca de 8% do consumo global, sendo o potássio o principal nutriente utilizado pelos produtores rurais (38% do total), seguido de fósforo (33%) e nitrogênio (29%). Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), dentre as culturas que mais utilizam fertilizantes estão a soja, o milho e a cana-de-açúcar, com mais de 73% da demanda nacional. O Ministério da Economia aponta que os principais exportadores de fertilizantes para o Brasil são: Rússia, China, Canadá, Marrocos e Belarus. Os dois países são importantes fornecedores globais de insumos (fertilizantes e gás natural) e o conflito influencia fortemente no mercado. Internamente, nos últimos anos, devido a taxa de câmbio, os custos aos produtores vinham se acentuando. Com o conflito, o receio é com as sanções impostas pelo ocidente para os países e as dificuldades de logística para entrega dos produtos já adquiridos. Houve forte articulação do Mapa para a verificação dos volumes de produtos disponíveis para a 2ª e 3ª safras e preparação da safra 2022/23. Também ações de articulação com o Canadá, outro importante fornecedor de fertilizantes para o Brasil.

José Eduardo: A Rússia é nosso maior fornecedor de Nitrato de Amônio e de Cloreto de Potássio, muito utilizados na cafeicultura. A situação demanda atenção, mas sem desespero, porque, exclusivamente no caso do café, o período de utilização de fertilizantes já terminou. O próximo ciclo de adubação cafeeiro é em setembro/outubro. E precisamos levar em conta que existem fontes alternativas para o fornecimento dos insumos de outros países e do Brasil, como a Ureia (nitrogênio), os fertilizantes organominerais, pó de rocha (Potássio) e o composto orgânico feito com palha de café, que também fornece uma razoável quantidade de potássio. Ao produtor, a principal orientação é a gestão do custo de produção, fundamental para a tomada de decisão e planejamento da atividade.

O Governo Federal criou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNE), para diminuir a dependência do mercado internacional. Além das medidas apresentadas, como buscar novas formas de produzir?

A.V.: Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) indicam crescimento da taxa de consumo de fertilizantes no Brasil de 4,3% a.a. nos últimos 20 anos. Em 2021, o consumo brasileiro do insumo somou 45,85 milhões de toneladas, sendo que 85% dos fertilizantes são importados. Este contexto fez com que o Mapa acelerasse o lançamento do PNE. Todavia, as principais ações estão previstas para longo prazo, mas precisam de decisões imediatas para sua implementação. Na proposta, prevê-se pesquisa nos solos pela Embrapa e iniciativas para a produção e uso de fertilizantes orgânicos. Além da necessidade de resolver processos judiciais, pelo Ministério de Minas e Energia, quanto às minas de potássio no Amazonas – onde estima-se reserva de 3,2 milhões de toneladas de potássio – garantindo a exploração econômica; bem como a ampliação da produção em Sergipe. Há necessidade de melhorar a competitividade da produção nas unidades de fertilizantes nitrogenados, especialmente pela questão do valor do gás natural. De forma macro, agir para a ampliação das relações político-institucionais e comerciais entre países. E fazer chegar ao produtor as pesquisas e informações adequadas. Importante destacar que a produção de alimentos no país, e em Minas, passa pelo compromisso do produtor rural com a segurança alimentar, as boas práticas agropecuárias e a utilização adequada de insumos. Na perspectiva de redução da disponibilidade de fertilizantes para a safra de verão (estimada em 20% pelo Mapa), o sentido é do produtor, a partir de agora, verificar a necessidade e realizar aporte no solo de adubação orgânica para substituir a mineral.

J.E.: O PNE será uma solução a longo prazo. Precisamos nos manter firmes no propósito de diminuir nossa dependência de fertilizantes importados (mesmo após o término do conflito). Outra medida que pode trazer bons resultados a médio e longo prazos é investir em projetos de pesquisas agronômicas para encontrar fontes alternativas e sustentáveis para fornecimento de fertilizantes. O Brasil possui institutos de pesquisa e universidades capacitadas e com excelentes profissionais para conduzir essas pesquisas.

 

Como as cooperativas podem se posicionar como atores da reformulação da produção agrícola no Brasil, com foco na sustentabilidade ambiental e econômica?

A.V.: As cooperativas são muito importantes nas diversas cadeias produtivas agropecuárias, porque são a aglutinação de produtores com o mesmo interesse de desenvolvimento local/regional. Assim, contribuem direcionando parcerias de implementação das pesquisas junto aos cooperados, no planejamento da atividade produtiva, na disponibilização do crédito rural orientado e na aquisição em volumes maiores de insumos e comercialização a valores mais competitivos do que outros fornecedores. No âmbito institucional, verificamos a parceria profícua com o Sistema Ocemg para ações ao setor agropecuário.

 

J.E.: As cooperativas devem continuar sua missão de orientar e incentivar os cooperados para o uso racional de fertilizantes, diminuindo o desperdício. Momentos difíceis geralmente proporcionam oportunidades. Precisamos conscientizar nossos produtores a utilizar as ferramentas agronômicas que estão disponíveis. A agricultura de precisão é uma delas. Não utilizar fertilizantes sem uma orientação técnica anterior. É preciso saber exatamente o que o solo e a planta necessitam para utilizar o produto e a quantidade corretos. Agindo dessa forma, as cooperativas estarão contribuindo para o uso racional dos insumos, cuidando do meio ambiente e trazendo ainda mais resultados para seus cooperados.

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