A importância da cultura do cooperativismo para a prosperidade foi o tema da palestra ministrada pelo instrutor Univaldo Cardoso, para líderes comunitários e moradores do Aglomerado Cabana do Pai Tomás, na região Oeste de Belo Horizonte.
O encontro aconteceu no salão da Igreja de São Geraldo e marcou o início da participação do Sistema Ocemg na “Jornada Empreendedora do Cabana do Pai Tomás”, projeto da Prefeitura de Belo Horizonte para a geração de ocupação e renda no aglomerado, que soma uma população de mais de 60 mil habitantes de baixa renda, uma das regiões mais afetadas pela pandemia de Covid-19. Junto ao Sebrae Minas, o Sistema Ocemg apoia o projeto realizado pela PBH, por meio da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico.
“É um momento importante da inauguração do trabalho do Sistema Ocemg, como o cooperativismo pode contribuir para a comunidade”, disse a analista do Sistema Ocemg, Lidiane Arantes. Ela lembrou que a entidade já desenvolve Programas de Desenvolvimento Sustentável local em outras comunidades, visando a organização de grupos para geração de trabalho e renda. Os municípios atendidos são Brumadinho, Mário Campos, Lontra e Morada Nova. Em Belo Horizonte, o trabalho envolve moradores com trajetória de rua, também em parceria com a PBH.
As ações da Jornada Empreendedora começaram ontem (7/10) com o diagnóstico e mapeamento de empreendedores do Cabana do Pai Tomás, desenvolvido pela empresa Allus, especializada em pesquisa e desenvolvimento comunitário. Após o resultado do estudo, segundo Lidiane, será feito um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, capacitação e formação dos moradores. A ideia é fazer a organização socioeconômica de grupos para gerar trabalho e renda.
“A partir daí, vamos promover encontros com os moradores para harmonização de grupos de cooperados. Vamos mostrar a eles a importância da confiança para formação de cooperativas, os desafios e os benefícios. Falar também sobre os princípios e valores para o funcionamento dessa organização”, diz Lidiane. A etapa seguinte é a legalização das cooperativas de moradores e, por último, a elaboração de um programa para o desenvolvimento sustentável local.
Potencial
Estimativas feitas por Univaldo Cardoso a partir da matéria ‘Potencial de Consumo em Favelas”, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 4 de novembro deste ano, apontam para um potencial de consumo anual dos moradores do Cabana do Pai Tomás de aproximadamente R$ 278 milhões. No entanto, segundo ele, a população do aglomerado não deixa todo o seu dinheiro nos estabelecimentos comerciais e nas mãos de prestadores de serviço locais. Por motivos diversos, fazem as compras em lugares fora de onde moram. Por outro lado, parte dos empreendedores não moram no Cabana, têm seus negócios na comunidade e residem em outros bairros.
Moradora do Cabana, a salgadeira Eleuza Silva, que assistiu à palestra, disse que 99% das compras de ingredientes que compra para produzir pastéis, coxinhas, empadas e outros quitutes são feitas em grandes redes comerciais de BH ou pela internet em razão dos preços mais elevados cobrados pelos mercados e açougues do aglomerado. “Há uma concorrência muito grande entre os comerciantes do Cabana, cada um cobra um valor mais alto”, disse. Univaldo apontou a organização de uma cooperativa entre comerciantes como saída para que eles se unem a fim de garantir mais lucros e preços menores para os consumidores. “Unidos, os varejistas podem conseguir descontos nas compras”, exemplificou.
Presidente da Associação dos Moradores do Aglomerado Cabana do Pai Tomás, Geraldo Magela da Silva, disse que será necessário trabalhar a cultura da união para que os empreendedores possam trabalhar juntos. “O trabalho do Sistema Ocemg será de extrema importância”, disse.
Fundador da Allus, empresa que vai iniciar os trabalhos de diagnóstico comunitário, ressaltou que o questionário aplicado junto aos comerciantes e prestadores de serviços da comunidade vai incluir perguntas sobre o que eles sabem sobre cooperativismo e como veem a importância da união.
Para facilitar a pesquisa de campo e gerar renda para moradores do aglomerado, a Allus recrutou oito jovens moradoras do Cabana do Pai Tomás, que ficarão responsáveis por fazer enquetes junto aos empreendedores da comunidade. Todo trabalho será documentado com captação de imagens por meio de drones e filmagens que darão origem a um vídeo. “A meta é entregar o mapa geográfico com todas as informações sobre a comunidade, onde estão os pequenos e microempreendedores”, afirmou Pedro Vassalo.
O analista de gestão e planejamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Helton Reis de Castro, também presente no encontro, disse que a pandemia acelerou a necessidade de desenvolvimento de ações no Cabana do Pai Tomás, que serão reforçadas com a Jornada do Empreendedorismo. Coordenadora Social da Urbel, Vanja Ribeiro dos Santos, informou que parte dos recursos destinados a obras de urbanização do Cabana será destinada para ações sociais que integram a Jornada dos Empreendedores.
