Sistema Ocemg acompanha de perto as mobilizações do setor lácteo nacional.
Produtores de leite de todo Brasil estão mobilizados para conter a onda de importações de lácteos que tem ameaçado a cadeia produtiva do setor. De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil importou mais de 1 bilhão de litros de leite no primeiro semestre deste ano. O volume comprado do produto estrangeiro superou em quase 300% em relação ao mesmo período de 2022. Com custos inferiores à produção interna, a situação tem gerado um cenário desfavorável para a cadeia leiteira nacional.
Em Minas Gerais, o setor está unido, buscando alternativas para manter a sustentabilidade do ramo leiteiro, já que o Estado é o maior produtor de leite do País, com a participação de 27,1%, na fatia nacional. E o coop mineiro está capitaneando ações para defender a produção local, já que 20% dos 9 bilhões de litros de leite produzidos vêm das cooperativas, segundo o Anuário de Informações Econômicas e Sociais do Cooperativismo Mineiro 2023.
No mês de outubro, ocorreram três reuniões em que o Sistema Ocemg e as cooperativas de Minas Gerais participaram para defender os interesses dos produtores de leite e derivados. Na primeira delas, no dia 25 de outubro, a diretoria do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado de Minas Gerais – Conseleite-MG realizou uma reunião com o presidente executivo da Associação Mineira de Supermercados (AMIS), que demonstrou receptividade às propostas de colaboração apresentadas pelo Conseleite-MG, no intuito de preservar a competitividade da cadeia leiteira mineira.
Na pauta da reunião, foi abordada propostas para a colaboração conjunta de valorização do setor leiteiro, que representa um dos pilares da produção agropecuária em Minas Gerais. “Nós discutimos a necessidade de estabelecer um diálogo mais amplo para a construção de uma cadeia de produção de leite abrangente. Essa cadeia envolve três partes fundamentais: produtores/cooperativas, laticínios e o setor de varejo, particularmente os supermercados. O objetivo é aprimorar o mercado de leite, garantindo uma colaboração mais eficaz entre o Conseleite-MG e a Associação Mineira de Supermercados (AMIS)”, explicou Isabela Perez, gerente-geral do Sistema Ocemg e presidente do Conseleite-MG.
A Associação destacou o interesse do setor varejista de supermercados em contar com parceiros fornecedores que tenham a capacidade de atender às demandas do Estado, garantindo qualidade na entrega dos produtos lácteos.
No dia seguinte, 26 de outubro, ocorreu a reunião ordinária do Conseleite-MG, onde, mais uma vez, foi discutida a redução do preço do produto. “Nós estamos em busca de soluções junto ao governo federal para que as importações sejam reduzidas e não prejudiquem ainda mais o mercado nacional”, ratifica a presidente do conselho.
Segundo Marcelo Candiotto, presidente da Cooperativa Central dos Produtores Rurais (CCPR), o coop tem enfrentado um dos momentos mais desafiadores na pecuária leiteira nacional com o recorde de importações de lácteos. “Essa situação atinge a atividade de tantos homens e mulheres que vivem no campo. A alta disponibilidade de lácteos importados no mercado compromete, especialmente, os pequenos e médios produtores, uma vez que o preço pago, atualmente, não traz viabilidade econômica à atividade”, mostra o presidente da CCPR, a maior cooperativa captadora de leite do Brasil.
Reunião em Brasília
No dia 31 de outubro, mais de 1.300 lideranças do setor participaram do II Encontro Nacional dos Produtores de Leite Brasileiros, realizado na Câmara Federal, em Brasília. O evento foi uma iniciativa da Frente Parlamentar dos Produtores de Leite em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), com a OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e com a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), que reuniu deputados, representantes do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Sistema OCB, do Sistema Ocemg e da Faemg/Senar-MG.
“Apesar dos avanços, as medidas adotadas até agora ainda são insuficientes para atender aos pleitos dos produtores. Pois, nos últimos 12 meses, houve um crescimento vertiginoso de importações, principalmente do leite em pó, afetando os produtores locais e comprometendo a sustentabilidade do setor”, ressalta Geraldo Magela, assessor Institucional do Sistema Ocemg e que participou do evento representando a entidade. “O consenso foi a necessidade de o governo federal avançar mais para reduzir o volume do leite importado”.
Vasco Praça Filho, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Leite de Minas Gerais (Fecoagro Leite Minas), ressalta que o ramo não está sozinho. “O Sistema Ocemg tem nos apoiado muito, nos dando toda a assistência necessária. Além de nos oferecer cursos e orientações para otimizar a nossa produção”, destaca.
Ele também lembra que os custos para a produção de leite aumentaram com a estiagem e, por isso, a importância da intervenção do governo. Vasco reitera que o Brasil é um importante produtor de leite, não sendo necessária a importação para abastecer o mercado nacional. “As importações não beneficiam o Brasil, apenas o outro país. A produção leiteira gera milhões de empregos nas pequenas propriedades e nas indústrias também”, destaca.
A deputada federal Ana Paula Leão (PP-MG), presidente da Frente Parlamentar e anfitriã do evento, afirmou que os produtores de leite são determinados e persistentes. “São homens e mulheres que, diariamente, alimentam o nosso Brasil, levando produtos de qualidade para as mesas dos brasileiros e dão dignidade, emprego e renda a milhões de famílias”. Na sequência, ela enfatizou a importância da união do setor. “Essa mobilização deve ser permanente e unificada. A indústria leiteira precisa de um compromisso duradouro para enfrentar as adversidades e buscar soluções que garantam o desenvolvimento sustentável da cadeia”.
Vicente Nogueira, representante do Sistema OCB e coordenador nacional da Câmara do Leite da entidade, ressaltou que os produtores de leite buscam reconhecimento, estabilidade e consistência. “Representamos 1,1 milhão de produtores de leite e estamos pleiteando dignidade para colaborativamente fortalecer o setor leiteiro. Apesar de termos feito avanços significativos em termos de qualidade e técnicas, necessitamos de apoio e políticas estruturais para crescer e consolidar a cadeia de produção”, declarou.
Durante o encontro Jônadan Ma, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), solicitou a criação do Plano Nacional da Dívida do Produtor de Leite do Brasil e o fim das importações subsidiadas da Argentina.